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A grande maioria dos procedimentos ambulatoriais são realizadas com o auxílio da anestesia local. Seu uso visa reduzir o desconforto do paciente, proporcionando melhores resultados.

A maioria das cirurgias de menor porte ou ambulatoriais são realizadas com anestesia local. A técnica de administração adequada pode reduzir o desconforto do paciente, melhorar a sua satisfação com o serviço e também o desfecho do procedimento.

Dentre os medicamentos utilizados como anestésicos injetáveis locais temos duas classes muito conhecidas e amplamente utilizada, as amidas e os ésteres. As amidas são representadas pela lidocaína e bupivacaína, sendo os fármacos de escolha na prática clínica para anestesia local, pois apresentam uma ação mais rápida e menos efeitos adversos em comparação com a outra classe já citada. Já os ésteres tem a procaína como exemplar, sendo sua administração limitada a indivíduos com reação alérgica prévia a anestésicos amídicos.

A epinefrina presente na solução dos anestésicos locais prolonga a duração do anestésico e reduz o sangramento por produzir vasoconstrição local. Importante saber que, por consequência da vasoconstrição, os medicamentos com epinefrina devem ser evitados em áreas de pouca vascularização, como por exemplo ponta dos dedos, nariz, orelha, entre outros, pois apresenta elevado risco de necrose tecidual.

Outra característica interessante no uso de epinefrina é a possibilidade de utilização de volumes maiores de anestésico. Observe a tabela a seguir para melhor entender essas informações.

Tabela 1: Anestésicos locais comumente disponíveis

Para iniciar o procedimento devemos preparar o local a ser aplicado o anestésico. Dessa forma, deve-se utilizar luvas não estéreis, gazes e soro fisiológico para realizar a limpeza. Após esse início, o profissional de saúde deve se paramentar com luvas estéreis e, utilizando solução antisséptica (clorexidina ou iodopovidona), demarcar o campo estéril.

Além do que já foi comentado, é importante ter a disposição os seguintes materiais:

Com o intuito de aspirar o anestésico do frasco, o profissional de saúde deverá utilizar uma seringa de tamanho 20 ou 21G e, em seguida, trocar a agulha para uma de menor calibre (25 a 30G), com o objetivo de minimizar o desconforto do paciente. Uma técnica recomendada no momento da aplicação é utilizar a mão não dominante para estirar a pele do paciente antes de inserir a agulha, pois diminui a sensibilidade dos nociceptores e, consequentemente, da dor sentida pelo mesmo.   

A seringa deverá ser segurada com a sua mão dominante na posição de injetar. Depois que a agulha é inserida na pele, preferencialmente em um ângulo de 15 a 30 graus, recomenda-se que o profissional de saúde verifique se a agulha não está localizada em um ambiente intravascular, sendo assim, deve-se tracionar o embolo e observar se há a entrada de sangue na seringa sempre antes de administrar o anestésico local. Caso não haja a sinal de sangue, o medicamento poderá ser administrado de forma lenta. Ao injetar em locais lacerados para reparo, o Ministério da Saúde recomenda, se possível, administrar o anestésico nos bordes íntegros da ferida.

O termo anestesia por bloqueio de campo descreve a infiltração de anestésico local em torno de uma área específica, tendo como objetivo anestesiar grandes áreas cutâneas. A anestesia por bloqueio de campo difere do bloqueio nervoso local pelo fato de mais de um nervo sofrer interrupção da transmissão nervosa.

A anestesia por bloqueio de campo pode ser realizada em um padrão com forma de quadrado ou de losango em torno do ferimento, e o anestésico é administrado à medida que se traciona a agulha sem sair da pele. Nas grandes lesões e nas lesões subcutâneas (como cistos e abscessos), a agulha também pode ser redirecionada abaixo da lesão se for necessária a dissecção profunda. Toda essa técnica é repetida no lado oposto da lesão. Observe a figura 1 a seguir para entender melhor o que foi mencionado.

Figura 1.

Para a realização de bloqueio de campo da orelha, o profissional de saúde deve realizar aplicações superficiais em torno de todo pavilhão auricular. Aplicações mais profundas podem causar paralisia motoro do nervo facial. Observe o mencionado na figura 2.

Figura 2.

Para bloqueios do nariz, injeções triangulares fornecem anestesia circunferencial adequada. Lidocaína adicional sem epinefrina deve ser administrada à ponta do nariz para anestesia do nervo nasal externo, pois esse nervo geralmente não é bloqueado pelas injeções circunferenciais. Observe o mencionado na figura 3.

Figura 3.

A administração de anestésico em um padrão linear em ambas as sobrancelhas produz anestesia dos nervos supraorbital e supratroclear de cada lado. Uma agulha longa deve ser usada para fornecer uma anestesia quase completa de toda a testa até o couro cabeludo. Observe o mencionado na figura 4.

Figura 4.

O bloqueio nervoso digital é realizado comumente para fornecer anestesia a todo um dedo, a consequência de um bloqueio nervoso simultâneo dos quatro nervos digitais que cruzam as laterais dos dedos. A administração de 1 a 3 ml de lidocaína a 2% sem epinefrina fornece anestesia adequada sem o uso de um grande volume.

O procedimento é realizado inicialmente com a limpeza da área que irá receber o anestésico. Após essa prática, o médico deverá inserir a agulha próximo à junção das superfícies dorsal e lateral do dedo, devendo ele injetar o fármaco de forma lenta no plano superficial e, posteriormente, no plano profundo. Importante administrar o anestésico ao longo dos dois lados do dedo para obter um bloqueio satisfatório.

Vale mencionar que não é aconselhado tentar qualquer avaliação da eficácia do anestésico ou o próprio procedimento até que o bloqueio tenha pelo menos cinco minutos para agir, pois tal técnica tarda um pouco que as demais para apresentar efeito significativo, não havendo a necessidade de administrar maiores volumes do medicamento. Observe a figura 5 para compreender melhor o mencionado.

Figura 5.

O bloqueio nervoso digital está indicado para todos os procedimentos a nível dos dedos, como por exemplo reparo de lacerações digitais, procedimentos ungueais, incisão e drenagem de abcessos, entre outros.

As principais complicações envolvendo a administração de anestésicos locais são:

Orientar o paciente para que relate quaisquer erupções ou bolhas locais pós-procedimento que possam indicar uma reação adversa ou infecção.

Mayeaux, E. J. Guia ilustrado de procedimentos médicos [recurso eletrônico] / E. J. Mayeaux. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2012.

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