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Cerume é uma condição normal no canal auditivo externo e geralmente confere proteção contra otites agudas. A presença dele é geralmente assintomática, mas, às vezes, pode causar complicações, como perda auditiva, dor ou tonturas.
- Introdução
A presença de corpo estranho (CE) no conduto auditivo externo é uma queixa comum nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA). Embora o procedimento de retirada pareça ser de fácil realização, pode apresentar algum grau de morbidade. As principais complicações vistas em pacientes com CE no conduto auditivo externo são traumas superficiais no conduto, hematoma, otite externa, otite média, perfuração da membrana timpânica (MT) e paralisia do nervo facial.
Cerume é uma condição normal no canal auditivo externo e geralmente confere proteção contra otites agudas. O cerume impactado está mais prevalente nas faixas etárias mais velhas e em pessoas com retardo cognitivo quando em comparação com crianças e adultos hígidos. A presença dele é geralmente assintomática, mas, às vezes, pode causar sintomas que levam os pacientes a unidade de saúde.
- Diagnóstico
Na grande maioria dos casos, o paciente comparece a unidade de saúde com queixa de diminuição da acuidade auditiva, estalidos e sensação de corpo estranho no conduto auditivo externo.
O exame físico consiste em 3 passos, sendo eles a inspeção, palpação e a otoscopia. A inspeção externa permite identificar processos inflamatórios externos, tumorações e deformidades anatômicas. Especial atenção deve ser dada a processos inflamatórios da região mastoidea. A palpação deve ser realizada em todo o lobo auricular, na região mastoidea e pré-trago. A otoscopia é o principal exame a ser realizado no diagnóstico efetivo de corpo estranho no conduto auditivo externo.
Segundo o Ministério da Saúde, a adequada realização do exame físico do sistema auditivo deve seguir sete passos, sendo eles:
- O otoscópio deve ser testado e o otocone, devidamente limpo, deve ser acoplado a ele. Prioriza-se um otocone com calibre intermediário.
- O paciente deve estar preferencialmente sentado, em posição confortável.
- Recomenda-se iniciar o exame no ouvido contralateral àquele afetado.
- Realiza-se a inspeção e palpação cuidadosas do ouvido externo.
- Com a mão não dominante do examinador, traciona-se a orelha pela hélice, no sentido posterior e superior, e a orelha deve ser mantida nessa posição até o final do exame. O objetivo da tração é a retificação do conduto auditivo externo.
- Segura-se o otoscópio pelo cabo, com a cabeça voltada para baixo. Sempre se deve apoiar levemente a região hipotênar da mão que segura o cabo do otoscópio na cabeça do paciente, para evitar trauma se houver movimentação brusca da cabeça.
- Deve-se procurar visualizar a membrana timpânica integralmente. Recomenda-se identificar o cone de luz como referencial que sempre estará disposto na região anteroinferior da membrana timpânica.
- Tratamento
A remoção de cerume está indicada para os casos de otalgia, diminuição importante da audição, dificuldade de realizar otoscopia, desconforto auditivo, zumbido, vertigem e tosse crônica.
O tratamento é realizado, sobretudo, por meio da remoção mecânica do cerume impactado, principalmente pelas técnicas de irrigação com solução salina ou remoção manual. Dentre as duas opções, a primeira oferece maior disponibilidade, boa segurança e aceitabilidade, sendo possível de ser realizada na maioria dos centros de saúde do país.
Os equipamentos necessários para a remoção de cerume por meio de irrigação com solução salina são:
- Campo, toalha limpa ou compressa;
- 1 otoscópio com otocone;
- 1 seringa de 20 ml ou maior;
- 1 cuba redonda;
- 1 cuba rim;
- 1 par de luvas de procedimento;
- 1 tesoura;
- 1 scalp (butterfly) calibroso (pelo menos calibre 19);
- 1 frasco estéril de soro fisiológico isotônica a 0,9%.
Antes de realizar a irrigação com soro fisiológico propriamente dita, é recomendado a utilização de produtos emolientes por poucos dias, tendo como objetivo facilitar a extração do cerume.
A preparação dos materiais inicia-se com o médico cortando o scalp com aproximadamente 4 cm a partir da extremidade de acoplamento da seringa e descartar a extremidade da agulha em local apropriado. O soro fisiológico, ainda com seu frasco fechado, deverá ser aquecido em banho-maria ou micro-ondas até a temperatura corporal (37º C), pois tal medida evita o surgimento de nistagmo e desconforto. É fundamental realizar a verificação da temperatura da solução isotônica antes de realizar o procedimento.
A técnica irá iniciar com a deposição do soro fisiológico aquecido em uma cuba redonda. Após isso, o profissional da saúde deverá aspirar com a seringa o conteúdo do recipiente até completa-la e acopla-la na extremidade do scalp. Deve-se posicionar a toalha, campo cirúrgico ou compressa no ombro do paciente, para então posicionar a cuba rim, bem justaposta, à cabeça/pescoço do paciente na altura logo abaixo da orelha. Ao introduzir a extremidade cortada do scalp no conduto auditivo esterno, a concavidade deverá estar voltada para frente e levemente para cima. Neste momento, sob leve pressão, inicia-se a lavagem do conduto auditivo, deixando escoar todo o material na cuba rim. Uma vez esvaziada a seringa, deve-se repetir as etapas anteriores quantas vezes forem necessárias, até que haja uma boa visualização da membrana timpânica através da otoscopia.
- Contraindicações à realização do método de irrigação com solução salina
São consideradas contraindicações para a remoção do cerume por meio do método de irrigação com solução salina:
- Otite aguda;
- História pregressa ou atual de perfuração timpânica;
- História de cirurgia otológica;
- Paciente não cooperativo.
- Referencias:
ANSLEY, JF & CUNNINGHAM, MJ – Treatment of Aural Foreign Bodies in Children. Pediatrics, 1998;101:638-41
Brasil. Procedimentos / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
BRESLER, K & SHELTON, C – Ear Foreign-Body removal: a review of 98 consecutive cases. Laryngoscope, 1993;103:367-70
DUBOIS, M; FRANÇOIS, M; HAMRIOUI, R – Corps étrangers de loreille: à propos dune série de 40 cas. Arch Pédiatr, 1998;5:970-3.