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O ato de transmitir más notícias estará presente em algum momento da atuação profissional da grande maioria dos médicos e, pensando dessa forma, o ato de torna-la menos traumática trará ótimos benefícios tanto para o paciente como para os profissionais de saúde.

O conceito de más notícias é descrito como toda e qualquer mensagem notificada ao paciente ou a seus familiares que provoque impacto na perspectiva de futuro em um sentido negativo. Sendo assim, independentemente do grau de expressividade, tais notícias podem proporcionar experiencias traumatizantes.

No passado, acreditava-se que revelar notícias ruins poderia gerar angústias aos pacientes, resultando em uma menor adesão e qualidade do tratamento, o que justificava os médicos a ocultarem o prognóstico. Entretanto, atualmente já se sabe que a prática de expor abertamente o diagnóstico, de forma humanizada, não apenas torna a comunicação entre médicos e pacientes mais clara, como também fortalece os laços dessa relação.

A comunicação entre médico e paciente, quando não realizada de forma clara, favorece ao surgimento de uma barreira na compreensão. Sendo assim, na perspectiva de proporcionar melhores relações médico-paciente e favorecer suas interlocuções, o protocolo SPIKES foi desenvolvido.

Os protocolos, em geral, são criados com o intuito de ordenar e auxiliar os profissionais que desempenham atividades complexas, direcionando suas ações da melhor maneira possível. Apesar disso, o protocolo SPIKES atua como uma estratégia e não como um roteiro fixo, analisando os pontos mais relevantes de uma entrevista de más notícias.

O protocolo SPIKES tem como objetivo alcançar quatro propósitos fundamentais, sendo eles:

Como forma de cumprir seus objetivos, o protocolo SPIKES é composto por seis etapas que padronizam comportamentos a fim de tornar uma má notícia menos perturbadora. Cada letra do seu nome faz referência a uma de suas fases, como podemos observar a seguir:

Etapa 1 – Preparando-se para o encontro (Setting up): O ensaio mental é a maneira mais eficiente de iniciar uma conversa, principalmente quando se trata de uma má notícia. Ela consiste em revisar o plano da transmissão da notícia que será repassada ao paciente e o preparo do médico para responder às possíveis reações emocionais e perguntas difíceis. O ambiente onde irá ocorrer a conversa precisa oferecer privacidade e condições favoráveis a uma discussão sem distrações. Além disso, o paciente, se achar necessário, pode eleger alguém para o acompanhar. O profissional da saúde deve apresentar atitudes das quais favoreçam a relação médico-paciente. O contato físico e o contato visual podem atuar como medidas reconfortantes.

Etapa 2 – Percebendo o paciente (Perception): Tanto na etapa 2, como na etapa 3 do protocolo, a ideia principal é “antes de contar, pergunte”. À vista disso, antes de iniciarmos a transmissão da má noticia, o profissional deve se pôr a par do quanto o paciente sabe acerca da sua situação médica e como ele a entende. Dessa maneira, é possível identificar as lacunas existentes entre as expectativas e a realidade e, a partir delas, adaptar a informação conforme o entendimento do paciente. Para essa prática, torna-se ideal o uso de questionamentos abertos.

Etapa 3 – Convidando para o diálogo (Invitation): Basicamente esta etapa consiste em saber se o paciente gostaria de saber sobre o seu prognóstico, pois embora a maioria dos pacientes demonstre esse desejo, outros não o fazem. Caso o paciente opte por não conhecer os detalhes, o ideal é que o médico se coloque à disposição para esclarecimentos futuros.

Etapa 4 – Transmissão da notícia (Knowledge): Esta etapa inicia com o preparo do paciente, mencionando que uma má noticia será revelada, fazendo com que o paciente consiga se preparar melhor para o que está por vir. Ao iniciar a má noticia, o profissional de saúde deve utilizar um linguajar popular, evitando termos médicos e científicos, visando maximizar o entendimento por parte do doente. Além disso, é necessário introduzir o assunto aos poucos e verificar periodicamente se o paciente está entendendo tudo da forma correta. À medida que as reações e emoções surgirem, deve-se reconhecê-las e respondê-las.

Etapa 5 – Resposta à reação emitida pelo paciente (Emotions): As reações emocionais dos pacientes podem ser muito diversas, e a resposta a esses comportamentos é uma das maiores dificuldades na comunicação de más notícias. A melhor forma para se portar nesse momento é apresentar uma resposta empática. O profissional da saúde deverá ser capaz de ouvir e identificar a emoção experimentada pelo paciente e, quando existir incertezas a respeito das emoções, deve-se estabelecer perguntas exploratórias como “o que você está sentindo?”. Observe a ligação entre a emoção e o motivo que a desencadeou e, após conceder um tempo para que a pessoa expresse suas emoções, o profissional deve demonstrar que entende a dor do mesmo. Se a emoção demorar a ser contida, o médico pode prosseguir oferecendo mais respostas afetivas, até que o paciente se tranquilize. Caso a emoção não amenize, criará uma barreira para o tratamento de outras questões.

Etapa 6 – Apresentação de possíveis planos terapêuticos (Strategy and Summary): Essa etapa consiste na formulação de um plano terapêutico para o paciente, permitindo que o mesmo exponha suas dúvidas e garantindo esclarecimentos a respeito da notícia transmitida. A resolução de dúvidas é fundamental para aumentar o engajamento do tratamento. Importante enfatizar que antes mesmo de iniciar essa conversa, o médico deve perguntar ao paciente se o momento em que se encontra é a melhor ocasião para tratar do assunto e se ele está preparado para tal conversa.

Há algum tempo, o despreparo de profissionais diante da necessidade de comunicar mensagens negativas, resultava em prejuízo tanto para o médico como para os pacientes. Desse modo, o aperfeiçoamento das habilidades de comunicação é essencial, especialmente no que tange à transmissão de informações desfavoráveis, visto que esta é uma tarefa complexa e rotineira.

Com o intuito de amenizar este despreparo, o protocolo SPIKES apresenta-se como um recurso que pretende melhorar a transmissão de notícias desagradáveis e reduzir possíveis obstáculos existentes nesse processo.

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LINO, Carolina Arcanjo et al. Uso do protocolo Spikes no ensino de habilidades em transmissão de más notícias. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 35, n. 1, p. 52- 57, 2011.

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